Esses dias andei observando uma conversa do meu filho com o pai que me chamou atenção. João, no auge dos seus 4 anos, falou em uma conversa que sentia medo de algo, não me lembro exatamente o quê, e o pai correu para responder àquele sentimento de medo vindo do filho. Apesar de tê-lo acolhido de forma bem carinhosa e sutil, fiquei com uma sensação de que em sua fala, passou a impressão de que O filhO não poderia sentir MEDO, como se essa emoção não tivesse espaço dentro da criação de um menino. Ah, meninos são corajosos e não sentem medo de nada! E isso me fez viajar em meus pensamentos...
Aff, como acontecimentos cotidianos despertam em mim tantas reflexões!!!
Naquela hora, não falei nada, mas ruminei por uns dias minha sensação de estranheza. Me lembrei de um documentário americano que assisti há algum tempo, The Mask You Live In do ano de 2015 (A máscara em que você vive) e que traz a visão de especialistas sobre o que acontece quando meninos são obrigados a usarem a ‘máscara do macho’. Essa é a fala do professor de sociologia Michael Kimmel no documentário: “Eu diria que a maior emoção sentida pelos homens americanos é a ansiedade. Por que? Porque você precisa provar sua masculinidade o tempo todo”.
Então, pensei nos seres humanos que estamos criando para viverem nesse mundão de meu deus (rsrs) e como precisamos estar atentos para podermos educar uma geração de pessoas emocionalmente mais saudáveis.
E, de novo (sabia que aconteceria em algum momento), estávamos conversando já deitados na cama para dormir, quando João falou que sentia medo do lobo quando fazia “auuuul”. Dessa vez, falei antes que o pai respondesse (talvez da mesma forma que antes) que era normal sentirmos MEDO. Lembrei à ele que essa era como outras emoções que sentimos nos momentos da vida: como a ALEGRIA que ele sente quando brinca com um amigo, a TRISTEZA que sentiu quando seu peixinho morreu, a RAIVA quando não deixei que ele comesse bala antes do jantar... Também contei para ele que sentia medo de muitas coisas. Até me lembrei de uma vez (quando meu medo de mar era quase paralisante) que chorei para entrar em um barco para passear. Ah, se meus amigos não me ajudassem!!! E, João, estava adorando a conversa.
Também convidei para a gente conhecer mais sobre os lobos pesquisando na internet (ah, gente! Porque meu filho pede para ver foto e pesquisar sobre tudo no Google!). Descobrimos muitas coisas. Inclusive que o “auuuul” é uma forma de comunicação entre lobos.
E o pai? Estava com a gente, permitindo-se contar experiências também sobre suas emoções. Ele sabe que podemos (des)construir para vivermos melhor, o que foi captado na nossa troca de olhares.
Permita-se e permita que a criança experimente e expresse suas emoções. Nessas horas, confesso que a Psicologia me ajuda bastante, como nessa técnica de conhecer objetivamente sobre o objeto que se fantasia/teme. Mas também confesso que, nessa hora, o desejo que meu filho viva suas emoções de forma saudável grita dentro de mim.
Grande abraço!
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